Hoje conversamos com Mariana. Uma mulher de 27 anos, com 3 filhos lindos –
a Sofia de 5 anos, o Artur de 3 e o pequeno Xavier de apenas 4 meses -, é Doula de
profissão e autora da página Mãe ao cubo.
Apreciem a nossa conversa.
5’Tastic Moms:
O que é para ti ser mãe?
Mariana: Ser mãe é viver num permanente
estado de sentimentos ambíguos. Se por um lado quero dar tudo de mim a outro
ser, por outro tenho que me ir lembrando de mim própria ou vou deixar de ter o
que quer que seja para dar. É perceber e aceitar que os filhos não me
pertencem, são seres individuais. É um equilibrar de agarrar e deixar ir.
5’Tastic Moms:
Gostaste de estar grávida? O que mais gostaste? E o que menos gostaste?
M: Sinceramente no geral não. Senti-me grande e desajeitada e tendo o útero
irritável significava estar sempre em semi repouso, o que para uma pessoa ativa
como eu é muito frustrante. Mas em certas partes adorava, como sentir o meu
bebé mexer e a sensação de carregar um tesouro.
Foram três gravidezes muito
diferentes. Em todas tive o tal útero irritável, que são, simplificando,
tentativas quase constantes de o útero contrair. Provocam alguma dor e são
muito desconfortáveis. A primeira foi vivida com a típica ansiedade da
descoberta, da novidade, e de não saber se ia correr tudo bem. A segunda teve
outros contornos. A Sofia só tinha um ano quando fiquei grávida e vi-me muito
limitada, não tive na altura o apoio do pai dela como precisava de ter, mas por
outro lado tive uma doula maravilhosa, a Patrícia Paiva, que moveu mundos para
estar lá para mim. A do Xavier foi sem dúvida a melhor de todas. Foi um filho
muito desejado, muito acarinhado por todos. Foi o primeiro do meu companheiro
que esteve sempre lá e viveu a gravidez tão intensamente como eu. Definitivamente
o apoio que uma grávida sente faz toda a diferença na forma como vive esse
período da sua vida.
5’Tastic Moms:
Quais são os teus maiores receios/medos como mãe? E como mulher?
M: Como mãe? É falhar. É não
criar adultos saudáveis e felizes. Mas acima de tudo felizes. Como mulher tenho
muitos. Não conseguir seguir os meus sonhos é um deles.
5’Tastic Moms:
Do que sentes mais falta da tua vida antes de seres mãe?
M: O
poder ter um dia sem horários! E dormir. Tenho tantas saudades de dormir. Mas o
que me custou mais, foi passar a ter todos os dias o coração nas mãos, mesmo
quando não estou com algum deles tenho que me distrair do pensamento que algum
vai cair e aleijar-se ou pior. Tenho saudades de poder ser um bocadinho
irresponsável quando me apetecia.
5’Tastic Moms:
Diz-nos uma coisa boa e uma menos boa que ganhaste com a maternidade
M: Aprendi a não duvidar que sou
capaz. Tens dias que olho para trás e não acredito que consegui chegar aqui.
Menos boa...Só se forem as estrias da barriga (hehe).
5’Tastic Moms: A
Mariana é autora de Mãe ao
Cubo, qual foi a tua motivação para a criar essa página?
M: Fazer chegar a informação de
uma forma descontraída e empática. Notei que muitas vezes as mães não liam nem
metade dos artigos científicos, e que achavam que aquilo só acontecia aos
outros. Quis mostrar como todas passamos por momentos menos bons e ao mesmo
tempo conseguir colocar informação baseada em evidências científicas, em
vivências pessoais, e abrir horizontes. Aos poucos está a criar-se um espaço de
partilha onde as mães acabam por partilhar umas com as outras as partes mais
cinzentas da maternidade, tornando-as até bastante mais coloridas.
5’Tastic Moms: São
muitos os teus testemunhos sobre a amamentação e o babywearing. Fala-nos um
pouco sobre ambos os temas.
M: A
amamentação foi a melhor herança que a minha mãe me podia ter dado. Mesmo antes
de saber os seus benefícios, eu acreditava que era natural e nem punha a
hipótese de não o fazer. Sempre vi os meus irmãos a mamar e sem dúvida que
contribuiu. No entanto não é um processo sempre fácil, e há muitas mulheres que
querem amamentar, mas depois a percentagem que efetivamente consegue para lá
dos 3 meses e bastante baixa. É acredito que um dos motivos é porque muito
poucas viram um bebé que não o seu a ser amamentado. Perdeu-se essa cultura de
aprendizagem entre mães. A juntar ao boom do leite artificial que se deu nos
anos 70/80 leva a muitas desistências. Acho de extrema importância que se fale
na amamentação de forma natural, é como é no dia a dia, de forma a que outras
mães se identifiquem e não assumam logo que não têm capacidade de nutrir o seu
bebé. Muitas vezes a mãe só precisa de confiança, outras naturalmente precisará
de um apoio presencial de uma CAM (conselheira em aleitamento materno).
O
babywearing foi uma descoberta. Já tinha vontade da minha filha, mas não sabia
sequer que tinha nome e, portanto, não soube procurar. Depois a informação foi
crescendo e hoje é uma paixão. Ver a forma como aumenta a confiança das mães
"usar" o seu bebé é maravilhoso. Porque o bebé chora muito menos,
porque tem menos cólicas ou não tem de todo, porque conseguem comer e fazer
xixi sem deixar o bebé a chorar. É também porque facilita o contacto pele a
pele que por sua vez tem inúmeros benefícios. Mas usar o bebé tem acima de tudo
a vantagem de dar continuidade ao ambiente que tinham in útero, e no meu caso é
a única forma de conseguir tratar dos filhos mais velhos mantendo a paz em
casa.
5’Tastic Moms: Que
conselhos darias, como doula, as recentes e as futuras mamãs deste país.
M: Confiem em vocês. Reúnam à
vossa volta pessoas em quem confiem, que vos queiram ajudar e apoiem as vossas
decisões. E gozem cada minuto, olhem para o vosso bebé, conheçam cada prega e
cada barulho, oiçam-no! O amor nunca é demais, e não há nenhum manual de
instruções melhor que o vosso filho.
5’Tastic Moms: Os
meus filhos são … (termina a frase)
M: Os meus filhos são a minha inspiração.
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