Desde que entrevistei a Mãe ao Cubo e que falamos um pouco sobre o babywearing que fiquei com o bichinho e depois de uma amiga me ter "emprestado" um wrap, decidi investigar mais sobre o assunto.
Desde de pesquisa na Internet, leituras sobre o tema noutros blogs de maternidades e até grupos no facebook, descobri então várias pessoas que acredito que me irão ajudar neste tema.
Funtastic Mom: Quem é a Susana Silva?
Susana Silva (SS): Neste momento, sou mãe a tempo (quase) inteiro, a dar inicio a um novo
projeto. A minha formação de base é Antropologia e acho que se não fosse ter
começado por aí hoje não estava onde estou, por isso só tenho de estar
agradecida.
Sou mãe de 2 filhos, um com 12 anos e uma menina com 15 meses.
Então há 12
anos não havia o acesso "fácil", rápido à comunicação que há hoje em
dia e assim num misto de intuição com bom senso, as coisas correram menos bem
nuns pontos, muito bem noutros (nós as mães somos sempre muito críticas e
sentimos sempre a culpa em tudo, verdade?)
Antes da
segunda gravidez comecei a informar-me mais sobre a gravidez, as escolhas mais
conscientes e mais saudáveis, o parto humanizado, a amamentação, a criação com
apego, montes de coisas. Tornei-me assessora de lactação e agora ando a estudar
(muito) babywearing, sou consultora por duas escolas.
Funtastic Mom: Susana, como é que o babywearing chegou à tua vida?
SS: Ainda antes de sequer sonhar ficar grávida pela segunda vez,
nessas pesquisas sobre a maternidade, a amamentação, essas coisas, fui
conhecendo o babywearing (bbw). Nem te sei dizer quando foi o momento ou dia
mas quando dei por mim parecia que já sabia "muito". Para mim é um
dado adquirido que os bebés precisam de muito colo, muito contacto e o
babywearing é um grande aliado, uma ajuda fundamental, quer para o ótimo desenvolvimento
do bebé, quer para todo o pós-parto da mãe (ajuda a prevenir a depressão pós
parto, na criação de laços, toda a partilha hormonal e sensorial). Acho que o grande
obstáculo que se coloca às mães hoje em dia é o sentimento de culpa.... aquelas
vozinhas que nos andam sempre a repetir que colo estraga, que mimo estraga, que
os bebés são manipuladores, que quando nascem já devem saber comer, dormir
sozinho, com jeitinho ir à casa de banho e limpar a casa. Não, as mães podem e
devem amar os seus bebés, interagir com eles, conectar-se, “incorporar” o novo
membro da família através do nosso maior órgão – a pele.
Assim o bbw foi surgindo...E uma das
primeiras pessoas que me influenciou, pela positiva, nestas andanças, foi a Kaité da Psicolor. O seu à vontade, a partilha, a divulgação, acho que tem feito um
trabalho fantástico neste sentido.
Fiz um workshop para pais e mães ainda
grávida, que me foi muito útil a nível "técnico" mas que não foi
ajuda nenhuma para antever os pequenos detalhes da prática do bbw com um recém
nascido, o colocar, tirar, colocar, tirar e colocar… porque um recém nascido
está sempre a mamar, então no colo ótimo, ele sabe onde está a fonte de
alimento (é uma das vantagens). Logo percebi que o pano que comprei não foi a
solução mais prática para mim. Comecei a ler
muuuuuito, tamanhos, portes… imensas coisas.
Surgiu a oportunidade de fazer
formação para ser consultora e cheguei ao ponto de ganhar coragem e abrir uma
slingoteca física.
Funtastic Mom: Podes falar-nos um pouco sobre o que é o babywearing.
SS: O bbw é a
forma "normal" de lidar com um bebé. Um bebé precisa tanto de
contacto com os pais como de alimento. Um bebé alimentado sem contacto não se
desenvolve da mesma forma que um alimentado com contacto.
O carregar
tradicional sempre se praticou, desde dos primórdios da humanidade, não havia
outra forma. Antigamente as mães carregavam os seus bebés e/ou criança não só
porque serem nómadas mas também porque não era seguro deixá-los no chão, devido
aos predadores e à sujidade. Hoje em dia já é mais seguro deixar uma criança no
chão, onde ela pode brincar, aprender a gatinhar e a andar, mas ainda assim temos
alguns cuidados.
O bbw, nos dias de hoje, apesar de
algumas variações entre escolas, promove um carregar seguro e ergonómico,
promovendo o contacto bebé-mãe-pai e a livre movimentação do cuidador.
Funtastic Mom: Quais os artigos recomendados para a "prática"
do babywearing?
SS: Recomendo sempre o bebé andar na
vertical, com as vias aéreas desobstruídas e a anca basculada. O tipo de porta
bebés a utilizar depende muito do bebé e da sua família.
Teoricamente, um recém nascido deve
andar num pano elástico ou não elástico (de preferência) tipo porte canguru. A
partir, mais ou menos, dos 2 meses pode ser usado o sling de argolas e a partir
dos 3-4 meses (ou quando já seguram a cabeça) um mei tai. A partir do momento
que já se senta, podemos sugerir as mochilas ergonómicas. É que isto é o que
quase todas as consultoras te vão dizer, com poucas variações. Na prática, cada
caso é um caso, seja pelas especificidades “fisiológicas” do bebé ou de quem
carrega, pela facilidade de manusear os porta-bebés (ainda que tudo se
aprenda), das necessidades no quotidiano ou das próprias expectativas dos pais.
Há ainda condições físicas específicas, daí ser tão importante a consulta e o
acompanhamento individualizado, ouvir a mãe (e o pai, de preferência), ouvir e
sentir o bebé. Observar. Para encontrar a melhor solução para cada família.
Futastic Mom: Sim mas imagina que achas que existe um
artigo melhor que outro, que preferes as mochilas ou os panos...
SS: Eu tenho as
minhas preferências pessoais mas as experiências individuais não são iguais de
forma nenhuma. Eu adoro a versatilidade e o conforto dos panos, uma vez que dão
desde recém nascido até não quererem mais colo, fazes n coisas com os panos e
há panos lindos de morrer, podes combinar com a tua roupa ou com o teu estado
de humor. Os mei tai gosto muito desde que tenham alças bem largas para dar bom
suporte. É que eu tenho um chumbinho de 12kg.
Como não sou
nada high tech, característica minha, não sou tão adepta das mochilas. Não acho
assim tão práticas... As pessoas vão muitas vezes com a ideia que a mochila é
só ajustar uma vez e já está, é só sentar o bebé e toca a andar mas no entanto,
o que se vê muitas vezes é que o bebé está numa mochila ergonómica, mas a sua
postura não está a ser ergonómica (por exemplo, a anca não vai basculada -não
basta abrir as pernas, ok?). Pessoalmente e devido à minha própria constituição
física, eu sempre que coloco uma mochila preciso fazer muitos ajustes mas há
pessoas que usam muito bem e conseguem ajustar uma vez e usar várias vezes e há
pessoas que não têm tanto jeito para panos. Então entre um ou outro produto o
importante é carregar, pela saúde dos bebés, das mães e dos pais também.
Funtastic Mom: Que cuidados devemos ter com o
babywearing?
SS: Há diferentes níveis de cuidados. Quanto
menor uma criança maior o cuidado a ter, mas também mais colo convém dar.
Até aos 6
meses o bebé precisa mais de colo, então é uma questão das pessoas se
informarem, escolherem o porta bebés que preferem e abusarem do bbw sem medos.
Em questões
de segurança, na minha opinião, é essencial que o bebé ande sempre na vertical
(à exceção de breves períodos, por exemplo, para dar de mamar em que podemos
lateralizar um pouco o bebé) e com as vias aéreas desobstruídas (cabeça
destapada e ligeiramente levantada, especialmente quando adormece - para
desimpedir a traqueia). Isto é sem dúvida o mais importante.
Depois temos
a questão da anca - especialmente em bebés que ainda não fizeram o rastreio ou
com suspeita de displasia da anca: aprender a bascular a anca, aprender a
sentar o bebé (com e sem porta bebés).
E finalmente
o uso de porta bebés certificados (resistência e, em particular, materiais
livres de produtos tóxicos, tintas com metais pesados, etc.)
Cuidados a
ter para quem não pratica bbw (também são precisos): muito contacto físico,
contacto pele a pele, muito embalo, dançar, encostar o bebé ao nosso peito,
evitar que passe muitas horas deitado - a plagiocefalia é cada vez mais comum e
tem várias consequências, ainda há poucos profissionais de saúde e cuidadores
sensibilizados para o assunto.
Quais são, para os
bebés, os benefícios associados ao babywearing? E para as mães?
Para os bebés o bbw deveria ser a
norma – ou pelo menos o colo. Como já referi, especialmente nos primeiros meses
de vida, ser carregado é fundamental para o ótimo desenvolvimento do bebé e
permite uma passagem mais segura e serena à vida extra-uterina. Permite o
acesso irrestrito à fonte de alimento, a regulação da temperatura corporal, o
estímulo auditivo mais aproximado à vivência intra-uterina (ouvido junto ao
peito do carregador), o estímulo sensorial (das terminações nervosas através do
contacto pele a pele), suprime as necessidades vestibulares (de movimento), permite
uma troca hormonal com o carregador e de afetos, estímulo visual (quer do
carregador quer do seu redor), facilita a digestão e a respiração.
Ao ser carregado o bebé vai estar no
seu habitat natural, então toda a rede de estímulos neurológicos vitais vai
estar a ser ativada, de forma a engrenar os seus próprios instintos primordiais
e se desenvolver mais e melhor a partir daí.
Bebés carregados tendem a ser mais
serenos, mais calmos e também mais seguros de si e muito curiosos, exploradores.
Crescem a saber que as suas necessidades são atendidas. Tornam-se crianças que
geralmente arriscam, têm um bom domínio e consciência do próprio corpo, digamos
que estão habituados desde logo a ver o mundo nas suas diferentes perspetivas
– o mundo tal como ele é e não só o de faz-de-conta. Sabem o que é ir às
compras e pagar, por exemplo (o conceito de troca). Sabem que por trás de cada
balcão está um ser humano. Um bebé num carrinho descobre isso mais tarde. São
autónomas, ao contrário do que nos diz a (des)sabedoria popular que o colo
estraga. Claro que cada criança é única, com suas necessidades e preferências
pessoais.
É claro que à medida que a criança
cresce também lhe deve ser oferecida a experiência de conhecer o seu corpo de
forma viva e livre - espaço no chão, a brincar, a explorar o ambiente
"terrestre". A criança deve poder sentir o limites do seu próprio
corpo, rastejar, gatinhar, rebolar, andar e correr.
Para as mães, temos como benefícios o
poder circular à vontade sem ter que procurar rampas ou passeios largos para
andar com o carrinho, ir às compras e conseguir usar um carrinho de compras,
executar tarefas em casa, passear, etc, sem o inconveniente de carregar ao colo
sem apoio, o que pode causar tendinites e assimetrias na coluna devido a posturas
compensatórias. É muito útil para ajudar a manter uma boa saúde mental.
O babywearing é associado muitas vezes às mães mas tem existem pais que
o fazem. Qual é a sua opinião sobre o assunto?
É verdade e
eu sou dessas pessoas que fala muito nas mães porque geralmente as mães são as principais
cuidadoras. Basta ver as licenças de parentalidade por nascimento e quem as
goza.
Mas também é
verdade que existem cada vez mais pais praticantes de bbw e ainda bem. Os
homens têm as mesmas capacidades de uma mulher para carregar, oferecer contacto
físico, de cuidar dos bebés, só é preciso que o queiram fazer e não tenham medo
de exercer a sua paternidade. O que vejo é que muitos pais ainda, infelizmente,
acham que carregar é coisa de mulheres, então panos ui ui... Já vi pais super à
vontade a manusear panos mas com vergonha de sair com eles à rua.
Esta é a
sociedade desigual em que vivemos... O que quero dizer sobre isso?! Na verdade,
muito... Mas enfim... estas atitudes ainda são fruto das diferenças de género
que sentimos em muitos outros campos. E felizmente estão a mudar.
Onde podemos comprar artigos de confiança? O que devemos ter em conta na
hora da compra? Quais os critérios?
Existem várias lojas físicas e online
para compra de artigos de bbw. Também existem várias consultoras, com
diferentes níveis de formação mas sim várias, para ajudar na escolha do melhor
porta bebés para uma determinada família e bebé.
No grupo Babywearing Portugal existem
listas de lojas e consultoras de confiança. Todos os artigos vendidos devem ter
certificações próprias.
Considero importante que seja feito um
aconselhamento prévio antes da compra, porque às vezes julgamos que estamos a
comprar o melhor e podemos não estar a fazer uma excelente compra. Pode não ser
o mais adequado para o nosso caso, não tanto porque os artigos não são de
confiança, mas porque não são os mais adequados para nós ou nosso bebé.
Se te quiserem contactar
para um consulta, como e onde o devem fazer?
Devem contactar-me diretamente por
mensagem privada no facebook, para a página de sling em sling ou email
(deslingemsling@gmail.com). A consulta será ao domicílio ou na slingoteca.
Também irei iniciar workshops e ciclos de mini workshops temáticos mensalmente.
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